Itaituba

Figuras de Pensamento

A vida familiar



A vida em família é uma loucura, mas é uma loucura sã: reunir-se aos domingos, ouvir canções, assistir filmes e outras coisas mais. Nessas reuniões acontece cada coisa que eu quase morro de rir...

ARTIGO DA SEMANA


TECNOLOGIA: DEPENDÊNCIA OU NECESSIDADE?




      A todo o momento utilizamos a tecnologia, seja para mandar um recado, passar um fax, tirar uma foto, para conversarmos, enfim são inúmeras as utilidades que a tecnologia nos oferece.
      Há cerca de 60 anos atrás muitas coisas que fazemos hoje não eram possíveis, como por exemplo: viajar para china em cinco dias, estar em diversos lugares do mundo apenas com um click, dentre outras.
       O mundo era mais lento, as informações chegavam através de cartas pombos correis ou charrete, os amigos eram os do bairro, e o mais longe que se ia era na casa de campo da família. No entanto, com o passar dos anos sofremos um processo de evolução, não a evolução das espécies de Darwin, mas a evolução tecnológica.
Tudo começou com as revoluções industriais, ganhando força com a guerra fria, surgindo dos porões da guerra uma máquina chamada computador. Após o aparecimento do mesmo, o mundo mudou.
Contudo, a tecnologia não parou por ai. Por sermos consumidores exigentes, sempre queremos mais e em resposta a esse anseio o mercado tecnológico lança novidades todos os dias, tudo para facilitar a vida humana. Se lá na pré-história o homem estava começando um processo de sedentarismo, podemos afirmar que nos dias atuais o homem esta concluindo esse processo.
Essa reflexão instiga uma inquietação: conseguimos nos dias de hoje viver sem o auxílio da tecnologia?

Produzido por: Marques Junior Soares de Sousa.

PREGUIÇA GIGANTE: PALEONTOLOGIA NO TAPAJÓS


O material estava enterrado em uma propriedade privada em Itaituba e foi
encontrado durante escavações para fazer um tanque de criação de peixes. Ao
que tudo indica, os animais foram levados por uma enxurrada e ficaram presos
em um buraco.
O fóssil de uma preguiça gigante encontrado em julho do ano passado, no
município de Itaituba (PA), juntamente com os restos de outras duas
preguiças e um mastodonte, possui 13.340 anos. O material foi datado nos
Estados Unidos, e o resultado do exame foi encaminhado na semana passada ao
Museu Paraense Emílio Goeldi, instituto de pesquisa vinculado ao Ministério
da Ciência e Tecnologia e responsável pelo estudo do material.


Somente o fóssil de uma preguiça pôde ser datado porque preservou o colágeno,
proteína contida no osso, o que possibilitou a datação do material através
da análise do Carbono 14. Essa é a primeira datação em um exemplar em
fósseis de mamíferos da Amazônia.
O fóssil do animal encontrado é uma de uma preguiça gigante terrícola, da
ordem Xenarthra (ou Edentata), grupo muito antigo na América do Sul, cujos
representantes atuais são o bicho preguiça, o tatu e o tamanduá. O mamífero
gigante media cerca de 6 metros de comprimento, vivia na terra e se
alimentava de folhas.
O material estava enterrado em uma propriedade privada em Itaituba e foi
encontrado durante escavações para fazer um tanque de criação de peixes. Ao
que tudo indica, os animais foram levados por uma enxurrada e ficaram presos
em um buraco. O mastodonte seria mais antigo, pois se localizava mais abaixo
do local onde foram encontrados os fósseis das preguiças, a cerca de 3
metros da superfície.
O grande porte do animal, a dificuldade de movimentação e o fato de viver em
bandos confirmam a teoria de que há cerca de 14 mil anos, a Amazônia era uma
imensa savana, parecida com o que é hoje a África. “Com essas
características é impossível imaginar que a preguiça vivesse em uma floresta
densa”, explica o paleontólogo e diretor do Museu Emílio Goeldi, Peter
Toledo, que estuda os fósseis encontrados.

HOMEM – Segundo Toledo, o homem ameríndio conviveu com as preguiças, por
isso, a descoberta é importante para estudar como ele pode ter contribuído
para as mudanças no ecossistema. O pesquisador destaca também que as grandes
transformações na vegetação ocorreram em função de mudanças na posição da
Terra em relação ao Sol que acarretaram variações do clima, correntes
marítimas e na paisagem. “A Amazônia é uma região instável; pequenas
oscilações do clima desencadeiam grandes mudanças na região”, ressalta. Em
virtude disso, alerta o pesquisador, é necessário conter a devastação e
fazer planos de manejos adequados para evitar que a Amazônia possa se
transformar em um grande deserto.


Caribe brasileiro ( Praia de Alter do Chão)


Alter do Chão é uma vila turística localizada a 32 Km de Santarém, no Estado do Pará, às margens do Rio Tapajós, afluente do Rio Amazonas. O acesso é feito a partir de Belém, em vôo até Santarém e, de lá, traslado via terrestre, em estrada asfaltada.


O Rio Tapajós possui águas cristalinas e esverdeadas - característica única entre os afluentes do Amazonas - e na sua foz, proporciona o fantástico espetáculo do encontro de suas águas com as barrentas do Amazonas, sem misturar-se. Esse fenômeno ocorre devido as diferentes velocidade e densidade das correntes.


Conhecida como “Caribe Amazônico”, o município tem cerca de 2.000 quilômetros de praias exóticas, algumas de fácil acesso e outras completamente desertas e isoladas, banhadas pelas águas claras do Tapajós.


Além de praias fluviais e passeios de barco pelo Rio Tapajós, a região ainda oferece cachoeiras, florestas e inusitadas formações rochosas, ideais para a prática de esportes de aventura, como trekking e canoagem. Para quem gosta de pescaria, existem saídas diurnas e noturnas, em barcos fretados. Vale a pena pernoitar a bordo.

A pequena área urbana de Alter do Chão abriga o Centro para a Preservação da Arte, da Cultura e da Ciência Indígena (CPAI), conhecido como Museu do Índio, onde podem ser encontrados objetos raros e a história de 70 tribos da região amazônica.

Confira as principais atrações:

Artesanato local: produtos artesanais dos produtores locais manufaturados com materiais da região, visando difundir o que Alter do Chão tem de especial, atraindo gradativamente um número maior de visitantes a fim de apresentar a cultura e comercializar os produtos típicos da região.

Belterra: localiza-se em uma planície elevada às margens do Rio Tapajós, coberta por densa floresta. A cidade idealizada e construída por Henry Ford na década de 30 em típico estilo das pequenas cidades do sul dos Estados Unidos, foi criada com objetivo de abastecer a industria automobilística com borracha. Emancipada como município em 1997, ainda preserva as características americanas em suas construções.

Canal do Jarí: canal que liga o Rio Amazonas com o Rio Tapajós, é caracterizado por fauna e flora tipicamente amazônica (várzea). Possibilidade de focar jacarés, pescar piranhas e observar a belíssima revoada dos pássaros.

Encontro das águas: assim como o Encontro dos Rios Negro e Solimões, outro Encontro de Rios que chama atenção é o dos rios Tapajós e Amazonas. As águas destes rios se encontram, no entanto não se misturam, deixando uma marca bem definida de cada um. Isso acontece devido a diferente velocidade e densidade das águas.

Floresta Nacional do Tapajós: tem mais de 600 mil hectares. Criada em 1974, é tomada por essências nativas da região, como o babaçu e várias espécies de animais silvestres (cutias, onças e macacos).

Lago Verde: área situada às margens do Rio Tapajós. O nível da água oscila cerca de 10 metros ao longo do ano. O pico da cheia é no mês de junho, e novembro é o mês do nível d'água mais baixo. O Lago Verde possui cerca de 165 ha e margeia a Vila de Alter do Chão. O lago é formado pelo represamento da bacia com o Rio Tapajós. O Lago Verde é alimentado por dois igarapés principais, Jutuarana e Sonrisal, que desembocam nas cabeceiras do Macaco e Cuicuera e são formados por vários outros igarapés.

Museu Dica Frazão: o museu foi construído em homenagem à senhora de mesmo nome, uma artesã santarena dona de uma técnica única no mundo inteiro, capaz de transformar capins, raízes, fibras e cascas de madeira em belos e finos tecidos, com os quais produz um maravilhoso artesanato.
Praias desertas do Rio Tapajós: localizadas na margem direita do rio Tapajós, ficam a 30 km de Santarém por estrada pavimentada. O acesso por via fluvial leva cerca de 3 horas através do rio Tapajós. As mais indicadas são Ponta do Cururu e Ponta do Mureta, próximas à vila, porém praticamente desertas e muito belas. O acesso é feito através de canoas motorizadas que podem alugadas na vila de Alter do Chão.

Praias fluviais do Rio Arapiuns: um dos passeios mais bonitos da região, que pode ser realizado em dois, três ou quatro dias, percorrendo o rio Arapiuns e afluentes da região, visitando comunidades locais e diversas praias fluvias desertas. Localizado à margem esquerda do rio Tapajós, o rio Arapiuns tem acesso exclusivo por via fluvial. É no verão que surgem as inúmeras praias como a Ponta do Icuxi, de areias brancas e finas, às vezes formando pequenas dunas, com águas cristalinas e verde-azuladas. Outra atração bastante conhecida na região é a cachoeira do Aruã, dividida em duas quedas d´água, separada por uma pequena ilha coberta de vegetação. Excelente lugar para a prática de caminhadas e canoagem. Não existe infra-estrutura na região do Arapiuns, exceto um posto telefônico e posto de saúde.

Praias na região de Santarém:
- Praia de Canapanari: é uma praia deserta. O acesso até lá só pode ser feito por via fluvial.
- Praia Maracanã: uma das praias mais próximas da cidade, distante cerca de 6 km por via terrestre, com estrada pavimentada e sinalizada. O seu acesso pode ser feito também por via fluvial. Dispõe de pequena infra-estrutura para a venda de alimentos e bebidas.
- Praia de Maria José: é deserta e não dispõe de infra-estrutura. Chega-se somente através do rio.
- Praia de Pajussara: seu acesso é feito por via terrestre, passando por propriedades particulares. o acesso também pode ser feito por via fluvial.

Ponta de Pedras: fica distante 23 km pelas rodovias pavimentadas e mais 12 km por estrada não pavimentada. A beleza do lugar, com suas formações rochosas, chama a atenção. Dispõe de pequena infra-estrutura para a venda de alimentos e bebidas.

Ponta do Cururu: localizada próxima à vila de Alter do Chão, com acesso pelo rio (30 minutos).

Serra Piroca: localizada próxima a praia de Alter do Chão, é possivel caminhar até o mirante que oferece ótima vista do Rio Tapajós e Alter do Chão.

Direitos reservados http://www.pousadadomingote.com.br/site/alter.php

TRANSAMAZÔNICA: 40 ANOS DE LAMA E POEIRA



Thomaz Favaro, de Rurópolis, Pará
Araquém Alcántara
SEIS MESES POR ANO
Nos 2 200 quilômetros sem asfalto da Transamazônica, o tráfego só flui na metade
sem chuvas do ano

Veja também
Quem viaja pela Transamazônica tem a impressão de trafegar sobre um esboço de estrada. O asfalto só existe em trechos esparsos e a sinalização é um luxo inexistente. Nos seis meses do verão amazônico, a falta de chuvas ajuda a secar os atoleiros e o tráfego flui em meio a grossas nuvens de poeira. Centenas de tratores ocupam-se de efetuar reparos em vários pontos. É um ritual que se repete há décadas no período da seca. Nos seis meses seguintes, quando a chuva não dá trégua, a natureza e o tráfego de caminhões se encarregam de destruir o pouco que foi consertado. Acaba a poeira, volta a lama. Os caminhoneiros já se adaptaram ao ciclo infernal. "Quando as mangueiras e castanheiras começam a florir, é hora de voltar para casa", diz o gaúcho Alemar dos Santos, caminhoneiro há três décadas, que trabalha apenas na metade seca do ano. Os atoleiros tornam o frete tão caro que muitas vezes não vale a pena fazer o transporte. Quem insiste acaba por enfrentar um rali na selva. "Para percorrer os mesmos 800 quilômetros, demoro oito dias no verão e 25 no inverno", diz o paraense Antonio Eduardo Figueira, cuja carga inclui peças de motocicleta e combustível. Faz parte de sua rotina passar noites em atoleiros à espera de um reboque.
Solano José/AE
Obra faraônica
Abertura da Transamazônica na região de Altamira, em 1972
A Transamazônica tem mais de 4 000 quilômetros de extensão. Se tivesse sido aberta na Europa, cruzaria o continente de Lisboa a Moscou. O projeto original previa a fronteira com o Peru como ponto final, mas o último trecho nunca foi construído. A parte nordestina, com cerca de 2 000 quilômetros, é asfaltada e pode ser usada durante todo o ano. O governo federal prometeu pavimentar o trecho amazônico com maior população em seu entorno, uns 850 quilômetros, no Pará, até 2011. As obras andam a passo de jabuti, em parte devido a pendengas judiciais. Até agora, estão prontos menos de 200 quilômetros. Mantido o ritmo atual, levará mais vinte anos para o serviço terminar. Só então se pensará em asfaltar os restantes 1 300 quilômetros de chão batido.
A estrada que atravessa a maior floresta tropical do planeta permite uma visão dolorosa das mazelas do Norte brasileiro. No trecho dentro da Amazônia Legal vive 1,2 milhão de pessoas, das quais 66% não têm água encanada e 27% não têm instalações sanitárias. O índice de analfabetismo é o dobro da média nacional. A parte mais próspera é no Pará, onde a floresta derrubada foi substituída por pastagens, fazendolas, vilas e cidades que vivem em função da rodovia. A produtividade das plantações de cacau é a mais alta do país. Mas a distância e a precariedade da estrada tornam o frete cinco vezes mais caro que o do cacau da Bahia, o maior produtor nacional.
Para quem tem urgência, a Transamazônica é um obstáculo. O agricultor José Lázaro Magalhães, de 55 anos, mora em um vilarejo localizado no ponto em que a Transamazônica e a BR-163 são uma só estrada por 110 quilômetros. O médico mais próximo fica a 300 quilômetros dali, em Santarém. Se um de seus dois filhos fica doente no período de chuva, José tem de literalmente se desviar da rodovia. O trajeto até o médico inclui 30 quilômetros de carona no sentido contrário até o Rio Tapajós, para então seguir de barco rumo a Santarém. "Saímos cedo para amanhecer no outro dia no hospital", diz José. Não há praticamente oposição ambientalista ao asfaltamento do trecho paraense. O asfalto vai permitir o escoamento da produção local e melhorar a vida dos moradores. A maioria dos fazendeiros tem título de propriedade de suas terras. A situação é bem diferente no estado do Amazonas. Lá a floresta está praticamente intacta e há poucas comunidades no entorno da estrada. Em parte, isso se deve à dificuldade de acesso. A região tem todos os ingredientes que servem de estímulo à grilagem e ao desmatamento: abundância de terras, estrutura fundiária pouco definida e ausência do poder público. A Transamazônica foi uma das três maiores obras de infraestrutura projetadas pelo regime militar na década de 70, ao lado da Usina de Itaipu e da Ponte Rio-Niterói. Naquele tempo, ninguém achava má ideia ocupar a Amazônia com os agricultores malsucedidos de outras regiões, sobretudo nordestinos flagelados pela seca. Nunca houve um estudo de viabilidade econômica ou de impacto ambiental para justificar a construção da rodovia e a colonização de seu entorno.
Os primeiros moradores da região cortada pela Transamazônica foram festejados como exploradores de um novo eldorado – mas ficou evidente que quase 90% das terras em torno da estrada eram ruins para a agricultura. Quando o goiano Antônio Silva da Costa, 49 anos, chegou ao município de Rurópolis, a 200 quilômetros de Santarém, em 1979, já encontrou os colonos em debandada. Antônio formou uma fazenda a 7 quilômetros da Transamazônica com a compra dos lotes dos assentados que desejavam ir embora. Hoje, ele é dono de 500 cabeças de gado, planta milho e arroz. Mas sua família – são onze filhos, dos quais oito ainda moram em sua casa – sofre com a mesma falta de infraestrutura que afugentou os primeiros colonos. "Passo seis meses ilhado, porque com a chuva é impossível chegar até a rodovia", diz Antônio. O asfaltamento completo da Transamazônica está previsto para ser feito em três etapas. Ao todo, a obra vai custar 2,3 bilhões de reais aos cofres públicos. Isso significa que cada quilômetro de asfalto sairá por cerca de 1 milhão de reais. É caro, mas é o preço a ser pago por quatro décadas de equívocos e falta de planejamento.
O desastre das agrovilas
Léo Caldas/Titular

O projeto de colonização do regime militar previa a criação de agrovilas, pequenas comunidades na beira da Transamazônica. No papel, cada uma teria até 64 famílias, escola, igreja ecumênica, posto médico e pequeno comércio. Umas poucas agrovilas prosperaram e se tornaram cidades, como Rurópolis, no estado do Pará, com 30 000 habitantes. O maranhense José Pereira Silva, de 63 anos, chegou ao município em 1975 para ocupar um lote de 100 hectares dentro de um programa de colonização – e não encontrou nem sombra da infraestrutura prometida. "O Incra só abriu uma estrada vicinal e entregou o título da terra", diz. Sem tecnologia para produzir nem meios de escoar a colheita, tudo o que José conseguiu durante trinta anos foi manter uma agricultura de subsistência no meio da floresta. Hoje, ele vive ainda mais isolado do que quando chegou. A maior parte dos colonos foi embora e a estrada vicinal de 7 quilômetros que liga seu sítio à Transamazônica fica intransitável durante metade do ano. Nem energia elétrica ele tem.
 PUBLICADO PELA VEJA.COM http://veja.abril.com.br/especiais/amazonia/40-anos-poeira-p-54.html
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Barragens da discórdia

Xingu, Madeira e Tapajós.


“Não somos peixes para morar no fundo do rio, nem pássaros, nem macacos para morar nos galhos das árvores. Nos deixem em paz” – Índios Munduruku.
Os caudalosos cursos d’água de três dos mais importantes afluentes do Amazonas – Xingu, Madeira e Tapajós –serão interrompidos por imponentes barragens. Florestas, rochas, árvores, fauna e flora que desde tempos imemoriais formam ecossistemas singulares serão sepultados para sempre. Águas barrentas criarão lagos artificiais e com ele milhares de pessoas serão deslocadas, cidades serão encobertas e aldeias indígenas desaparecerão.
Habituados ao percurso milenar de suas águas, os rios certamente lutarão até o final de suas forças para recuperar sua liberdade, porém chegará o momento em que serão vencidos pelas barreiras artificiais e no lugar das corredeiras apenas um lago, silencioso e estancado.
A construção das hidrelétricas de Belo Monte (Xingu), Santo Antonio e Jirau (Madeira) e São Luiz de Tapajós, Jatobá, Cachoeira dos Patos, Jamanxim e Cachoeira do Caí (Tapajós) anunciam, entretanto, muito mais do que um simples duelo entre as águas e as barragens. O duelo das águas simboliza, sobretudo uma disputa de modelo econômico para a região e para o país. O debate em torno das hidrelétricas opõe concepções e projetos de sociedade e revelam visões de mundo.
A principal luta social que se trava hoje no país se dá na região Amazônica. A “vanguarda” da luta se deslocou para o Norte do país – é lá que se dá o debate do “Brasil que queremos”. O surgimento do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Movimento Rio Madeira Vivo e Aliança Tapajós é a manifestação visível dessa luta. Acompanhar esse debate e essa luta é estar sintonizado com o que há de novo no movimento social brasileiro. É de lá que vem a inquietante e pertinente indagação: Que tipo de modelo econômico e de sociedade queremos?
Barragens da discórdia

Complexo Tapajós

“Já moramos mais de 500 anos dentro da floresta amazônica, nunca pensamos destruir, porque nossa mata e nossa terra são nossa mãe. Portanto não destruam o que guardamos com tanto carinho” – Povo Munduruku.
A construção de um complexo de usinas na bacia do rio Tapajós, entre os Estados do Amazonas e do Pará, vem sendo arquitetada desde a década de 1980. O projeto prevê a construção de cinco usinas hidrelétricas – São Luiz de Tapajós, Jatobá, Cachoeira dos Patos, Jamanxim e Cachoeira do Caí – com potência instalada de 10.680 MW (potência acumulada pouco abaixo de Belo Monte e pouco acima do Complexo Madeira).
A maior e primeira usina será a de São Luiz do Tapajós com um reservatório que ocupará uma área de 722,5 km² e potência instalada de 6.133 mw. A expectativa da Eletrobrás é que esta usina esteja pronta para licitação em junho de 2010. Os outros empreendimentos são Jatobá, com um reservatório de 646,30 km² de área e potência de 2.338 MW, Cachoeira do Caí, com reservatório de 420 km² e potência de 802 MW; Jamanxim, com área de reservatório de 74,45 km² e potência de 881 MW; e Cachoeira dos Patos, com 116,5 km² de área de reservatório e 528 MW de potência.
“Nenhum rio, no Brasil e no mundo, pode suportar a construção de cinco hidrelétricas, ou até menos, em sequência. Hidrelétricas causam prejuízos imensuráveis à biodiversidade, imagine cinco e em sequência. Neste caso se criariam cinco grandes lagos na região da bacia do Rio Tapajós em sequência. Isto transformaria esses rios em uma espécie de sistema lacustre”, alerta Telma Monteiro, coordenadora de Energia e Infra-Estrutura Amazônia da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, em entrevista ao sítio do IHU.
A promessa do governo é de que as hidrelétricas seguirão um conceito inovador: o de usinas-plataformas, projeto inspirado na logística utilizada pela Petrobrás em suas operações na Bacia de Campos. Segundo o governo, esse conceito elimina a necessidade de construção de vilas no entorno das usinas, o que reduz o risco de desmatamento. Os funcionários serão levados de helicóptero para o trabalho, onde ficarão por períodos mais longos.
As usinas-plataformas seriam montadas – argumenta o governo – sem a necessidade de abertura de estrada ou grandes desmatamentos, com os equipamentos levados por via fluvial ou por helicópteros. “Não tem cidade, não tem estrada, não tem madeireira. Então você monta uma indústria, as pessoas vão e voltam de helicóptero. É muito promissor”, disse o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.
“Estão tão embriagadas com essa orgia energética que ficaram criativos. Esse folhetim da Eletrobrás apresenta uma chamada inovação na construção de hidrelétricas na Amazônia. O tom é de ufanismo, tipo, ‘hidrelétricas do bem’ ou ‘desmatamento cirúrgico’ (inspirado no Bush) ou ainda ‘reflorestamento radical’”, critica Telma Monteiro. Segundo ela, “essa peça publicitária com propaganda enganosa está sendo distribuída à população na região do Tapajós. O conteúdo, além de conter frases de efeito, é subliminar, faz crer que a construção é iminente, passa batido sobre o processo de licenciamento ambiental e tem ilustrações que levam a falsa impressão de que não haverá impactos ambientais e sociais graças ao novo conceito de ‘usinas plataforma’”.
Quem também protesta é o padre Edilberto Sena, uma das vozes de oposição ao projeto: “A hidroelétrica de São Luiz do Tapajós, segundo a Eletronorte, será construída, quase como a bíblia descreve a criação do mundo por Deus. Assim: sem destruição, sem impactos negativos, até escadinha para os peixes subirem e descerem o rio haverá. Imagine que ela diz que os trabalhadores não residirão na área de trabalho, mas cada dia serão transportados de helicóptero e barco para a cidade de Itaituba. Quem já viu como se faz uma barragem (aquela será para gerar ao menos 8.000 megawattz de energia, um paredão de 36 metros) pode imaginar que ao menos 10.000 e até 20.000 trabalhadores estarão envolvidos na obra, então…todo dia essa tropa será levada e trazida a Itaituba…”, diz cético o padre Edilberto Sena.
E pergunta: “Mas para quem servirá a eletricidade de 5 grandes hidroelétricas, quando o Pará já tem Tucuruí? A construção de da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia começa destruindo natureza e expulsando famílias. Será diferente a hidroelétrica de São Luiz do Tapajós, de Jatobá e do Jamanxim? Por que enganar os povos do Tapajós? Quem pode impedir tais desastres? Só povos esclarecidos, unidos e organizados de Santarém, Aveiro, Itaituba e outros. Mas, estão atentos para isso? O que acontecerá no Alto Tapajós atingirá o povo de Santarém? E por fim, eticamente justifica sacrificar povos e comunidades inteiras em nome do progresso? Quem viver verá!”, conclui ele.
O anúncio do Complexo Tapajós deu origem ao Movimento “Aliança Tapajós Vivo”, cujo objetivo “é empatar a construção de qualquer hidroelétrica na bacia do Tapajós, sem diálogo real com as comunidades e os movimentos sociais”.
Em entrevista ao IHU, Jesielita Gomes, coordenadora do Movimento Tapajós Vivo e do Movimento de Mulheres da região, afirmou: “Nós dependemos da Amazônia para sobreviver, como é que vamos estragar tudo? Quantos anos nós estamos preservando para de repente o governo vir e em dias acabar com todo esse trabalho”.
Na entrevista Jesielita Gomes conta que só soube do projeto das hidrelétricas no rio Tapajós porque participou de um evento na cidade de Altamira e lá conheceu o jornalista, e historiador, Glenn Switkes: “O Glenn nos perguntou se sabíamos da construção das hidrelétricas na bacia do Tapajós. Então, falei que não sabíamos de nada”.
O jornalista, coordenador da ONG International Rivers, em entrevista ao IHU ainda no ano passado afirmava: “A visão de conquistar os rios da Amazônia com construção de grandes barragens é antiquada, obsoleta, que vem dos anos 1980, ou seja, é uma visão militar de ocupar a Amazônia e transformá-la numa estratégia econômica e política por parte de gente mal intencionada e ignorante, mas principalmente de grandes empreiteiras que querem construir essas barragens de qualquer forma (…) Os rios da Amazônia são os corredores da biodiversidade da floresta. Mexendo com isso, o impacto será muito sério na possibilidade de sobrevivência da floresta e dos povos da floresta”.
Quem se opõe de forma contundente ao projeto são os povos indígenas Munduruku. Perguntam eles sobre a hidrelétrica: “Para quem vai servir? Será que o governo quer acabar todas as populações da bacia do Rio Tapajós? Se apenas a barragem de São Luis for construída vai inundar mais de 730 Km². E daí? Onde vamos morar? No fundo do rio ou em cima da árvore? Aximãyu’gu oceju tibibe ocedop am. Nem wasuyu, taweyu’gu dak taypa jeje ocedop am (não somos peixes para morar no fundo do rio, nem pássaros, nem macacos para morar nos galhos das árvores. Nos deixem em paz. Não façam essas coisas ruins. Essas barragens vão trazer destruição e morte, desrespeito e crime ambiental, por isso não aceitamos a construção das barragens. Se o governo não desistir do seu plano de barragens, já estamos unidos e preparados com mais de 1.000 (mil) guerreiros, incluindo as várias etnias e não índios”, afirmam eles.
Em carta aberta às autoridades e à população brasileira, os povos da bacia do Tapajós, denunciaram: “Temos clareza de que os impactos ambientais, econômicos, sociais e culturais, na bacia do Rio Tapajós comprometem a vida humana, animal e vegetal, sem respeitar fronteiras geopolíticas, nem acordos governamentais. Assim, denunciamos a conivência passiva e ativa do governo e seus órgãos, diante dos crimes cometidos pelas empresas construtoras de barragens (Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa, etc.) e empresas eletro-intensivas (Albras, Alunorte, VALE, Pará Pigmento, Alcoa, Itacimpasa, Imerys Rio Capim Caulim, etc.) que consomem muita energia, geram pouco emprego, saqueiam nossos recursos naturais, contaminam nossos rios, terra, floresta, ar e destroem e violam os direitos das comunidades locais e comunidades indígenas”.

Complexo Madeira

“O rio Madeira e suas margens deixarão de atender ribeirinhos, indígenas e a população de Porto Velho com água, peixes, sedimentos e vida para se tornar um rio-mercadoria” – Movimento Madeira Vivo.
Somada à construção do complexo do Tapajós e Belo Monte, projeta-se a construção de duas hidrelétricas – Santo Antônio (já em andamento) e Jirau – no Rio Madeira, o maior afluente do Amazonas. As obras constam do PAC e não se resumem apenas às hidrelétricas, mas constituem-se em um complexo – que vai contar com hidrelétricas, eclusas, hidrovias e uma linha de transmissão que irá de Porto Velho até São Paulo.
A estimativa é de que o projeto vai inundar uma área de mais de 500 quilômetros quadrados e deslocar mais de 10 mil pessoas que vivem na região. Ao se colocar contra a construção do complexo, o movimento social questiona a quem o projeto irá beneficiar. Segundo Gilberto Cervisnki do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), “construir as usinas no Madeira representa a abertura para construção de dezenas de outras hidrelétricas dentro da Amazônia, sem sequer discutir uma questão que entendemos ser fundamental: energia para quê? E para quem?”. Segundo ele, o discurso do risco de apagão é utilizado para impor os aumentos nas tarifas de energia e o financiamento desses empreendimentos, mas que no final acabam beneficiando poucos.
Na opinião de Marco Antonio Trierveile, também do MAB, em entrevista ao IHU, “os grandes grupos econômicos estão interessados em aumentar sua exploração na Amazônia e em toda América Latina (recursos naturais, energia, minérios, madeira, terra, biodiversidade – principalmente para indústria financeira). Para que essas indústrias possam se instalar no País, elas precisam criar uma rede de infra-estrutura básica (energia, portos, hidrovias, redes de transmissão de energia, estradas, ferrovias), o que possibilitará a elas transportar mercadorias para fora do país”. É nesse contexto que ele situa o Complexo Madeira. Os grandes beneficiados pela construção das usinas hidrelétrica do Rio Madeira serão grupos de grande porte, como Votorantim, Vale do Rio Doce, CSN, Alcoa e Gerdau.
A maioria da população de Porto Velho (Rondônia) apóia o projeto. “No afã que as usinas vão gerar emprego, ganharam a opinião pública. Mas a maioria das pessoas desconhece os problemas que podem vir com as hidrelétricas”, avalia Iremar Antonio Ferreira, do Madeira Vivo.
Os problemas que virão são destacados por Gustavo Pimentel, da organização Amigos da Terra: “aumento do desmatamento, da grilagem, perda de biodiversidade, explosão demográfica e favelização em Porto Velho, aumento da malária e outras doenças, contaminação de peixes e da população por mercúrio, entre outros problemas”. A barragem de Santo Antonio fica distante apenas 7 Km de Porto Velho. A barragem deverá consumir 170 mil toneladas de estrutura metálica, além de 3,7 milhões de metros cúbicos de concreto, o suficiente para construir 60 estádios iguais ao Maracanã. Enquanto o concreto deverá ser produzido na região, a estrutura metálica será transportada pelas hidrovias amazônicas, assim como as 44 turbinas, cada uma com 33 mil toneladas.
Outro desafio crucial deverá ser a construção da linha de transmissão PortoVelho-Araraquara. Pelos planos do governo, sua concessão, orçada em 1,8 bilhão de reais. Aqui, o risco tem a ver com a eficiência de um sistema de logística a ser distribuído ao longo de 2 450 quilômetros, cruzando os estados de Rondônia, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. A fim de diminuir o desmatamento, as torres de transmissão, que vão atravessar áreas de proteção ambiental, terão pelo menos 40 metros de altura.
Segundo o movimento Rio Madeira Vivo, “o rio Madeira e suas margens deixarão de atender ribeirinhos, indígenas e a população de Porto Velho com água, peixes, sedimentos e vida para se tornar um rio-mercadoria. Um rio morto, estéril, com águas podres, contaminado por mercúrio, multiplicador da malária. Um rio a serviço das indústrias eletrointensivas e do agronegócio, imprestável para o povo, para a pesca artesanal, para o lazer e para as culturas de várzea”. O movimento alerta ainda que “com as usinas, o patrimônio histórico da Estrada de Ferro Madeira–Mamoré e da Igrejinha de Santo Antonio será descaracterizado para sempre. Verdadeiros monumentos ambientais como as cachoeiras de Santo Antonio e de Teotônio desaparecerão”.

Belo Monte

“Para construir a barragem terão que passar por cima de nós” – Luís Xipaia, líder kaiapó.
A maior obra de infraestrutura já realizada no país desde Itaipu e o terceiro maior empreendimento hidrelétrico do planeta, atrás apenas do projeto chinês de Três Gargantas e da própria Itaipu caracteriza a usina hidrelétrica de Belo Monte. O projeto impactará 11 municípios, nove territórios indígenas, desalojará milhares de pessoas e desmatará grandes áreas de floresta e secará parte do rio Xingu.
O governo afirma que a hidrelétrica é absolutamente indispensável para suprir a crescente demanda por energia; já na análise do movimento social, de ambientalistas e especialistas, Belo Monte configura-se como um projeto economicamente perdulário, socialmente desastroso e ambientalmente devastador. Nas palavras de dom Erwin Krautler, uma das principais vozes de resistência ao projeto, Belo Monte é “projeto faraônico e gerador de morte”. Os movimentos acusam ainda que o empreendimento atende especialmente aos interesses do grande capital.
Belo Monte foi projetada pela primeira vez pelos militares em 1975 no âmbito dos grandes projetos de ocupação da Amazônia. Em 1989, o projeto foi retomado com o nome de usina Kararaô, mas foi abortado pela resistência dos povos indígenas. Há um episódio que marcou simbolicamente a suspensão do projeto. Durante um encontro realizado em Altamira entre os povos índígenas com a Eletronorte para discutir a barragem, a indígena kayapó Tuíra encostou a lâmina de um facão no rosto do então presidente da Eletronorte, José Antonio Muniz Lopes – hoje presidente da Eletrobrás –, num gesto de advertência contra o então projeto do governo de inundar 1,7 milhão de hectares com a construção de cinco barragens no Xingu. A foto correu mundo e a pressão internacional fez com que o Banco Mundial desistisse do empréstimo.
Tudo é superlativo na obra. Belo Monte é um gigante na selva. Ninguém sabe ao certo o custo da obra. Orçada em R$ 20 bilhões pelo governo e R$ 30 bilhões por empresários, a previsão é que a construção da usina mobilize 100 mil pessoas, incluída os 18,7 mil trabalhadores empregados nas obras, 23 mil nas atividades que orbitam o empreendimento e um contingente de 55 mil pessoas em busca do “novo Eldorado”. Para os críticos, a conta está subestimada e avaliam que a obra mobilizará o dobro, 200 mil pessoas. A obra prevê a construção de dois canais de até 35 km de comprimento e 500 m de largura – o volume de terra a ser retirado e o de concreto para forrá-los supera o do canal do Panamá.
A fauna, a flora e parte da natureza intocável e de rara beleza serão destruídas. Haverá comprometimento da navegabilidade, da pesca e da agricultura. Animais serão extintos e os modos de vida locais se perderão em definitivo; grandes áreas de bosques serão inundadas. Cem quilômetros do rio Xingu, um afluente do Amazonas – com largas cachoeiras e fortes corredeiras, arquipélagos, florestas, canais naturais rochosos – se tornarão secos ou serão reduzidos a um filete de água.
Belo Monte é realmente necessária? O governo diz que sim, o movimento social contesta. Na avaliação dos movimentos contrários a obra, a mesma gerará pouca energia e produzirá muitos danos. Segundo especialistas a grande oscilação entre cheias e secas do rio Xingu vai transformar a hidrelétrica de Belo Monte numa imensa usina “vaga-lume”. Análises ainda dão conta que a hidrelétrica foi concebida para atender os grandes consumidores de energia.
Conjuntura da Semana. Uma leitura das ‘Notícias do Dia’ do IHU de 01 a 09 de março de 2010 – A análise da conjuntura da semana é uma (re)leitura das ‘Notícias do Dia’ publicadas, diariamente, no sítio do IHU. A presente análise toma como referência as “Notícias” publicadas de 01 a 09 de março de 2010. A análise é elaborada, em fina sintonia com o IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT – com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
(Ecodebate, 11/03/2010) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

Revolta do Jacaré

A Revolta de Jacaré-Acanga


As estações de rádio das companhias comerciais de aviação, cujos cristais estavam em poder de Veloso, voltaram ao ar. Centenas de pessoas que haviam fugido ante o noticiário alarmista das emissoras, começaram a regressar. Os gêneros de primeira necessidade, que já escasseavam – porque nenhum barco ousava atracar em Santarém – reapareceram no mercado. (Arlindo Silva – Revista O Cruzeiro)


- Do Campo dos Afonsos para Cachimbo

A eleição do Presidente da República Juscelino Kubitschek e de seu Vice João Goulart preocupava alguns setores da sociedade brasileira. Inconformados com a situação política que se delineava, o Major Haroldo Veloso e o Capitão José Chaves Lameirão da Força Aérea Brasileira, arquitetaram um movimento militar que esperavam ganhasse amplitude nacional. Na madrugada de 11 de fevereiro de 1956, dias antes da posse dos eleitos, os dois oficiais sequestraram do Campo dos Afonsos, localizado na Guanabara (atualmente Rio de Janeiro), uma aeronave “Beechcraft”. Carregaram-na com armamento e munição e rumaram para a Base Aérea de Cachimbo que eles mesmos haviam ajudado a construir.

Mais tarde o próprio Capitão José Chaves Lameirão confessou:

“Nosso plano era iniciar efetivamente a Revolução. Era preciso que alguém o fizesse. Nosso plano era apoderar-nos, logo de início, da base de Cachimbo – e foi o que fizemos. É preciso que se saiba que o Cachimbo fica mais ou menos equidistante de Fortaleza, Recife, Natal e Salvador. Com a Base em nossas mãos, seria fácil aos camaradas que quisessem aderir, com seus aviões B-25, as ‘Fortalezas Voadoras’ do Nordeste, e os ‘Ventura’ de Salvador, principalmente, voar diretamente ao Cachimbo e ali lutar pela causa. Chamaríamos, também, as atenções da Nação para aquele ponto e para o Amazonas, e isto poderia facilitar o levante no Sul. Achávamos que alguém começando a Revolução, ela se alastraria naturalmente”.

Os amotinados procurando ampliar sua área de influência ocuparam e dominaram, depois da Base Aérea de Cachimbo, a Base Aérea de Jacaré-Acanga (Cabeça de Jacaré). Desde a decolagem do campo dos Afonsos todos os aeroportos do país tinham recebido o sinal de alerta e tão logo foi conhecida sua posição dos insurgentes partiu um “Douglas” comandado pelo Major Paulo Vitor com a missão de aprisionar os rebeldes. A tripulação, tão logo pousou em Jacaré-Acanga foi aprisionada enquanto o Comandante Paulo Vitor aderiu ao movimento.

Veloso dando continuidade à estratégia de ampliação da área convulsionada parte o “Beechcraft” reforçado pelo “Douglas” para a Base de Santarém que foi ocupada sem resistência. Enquanto Lameirão providenciava a interdição da pista, Veloso assumiu o comando da força policial santarena, interditou o telégrafo, e neutralizou as comunicações das estações de rádio e das companhias aéreas retirando-lhes os cristais dos equipamentos. Fechou o “Tiro de Guerra 190” e convocou alguns atiradores para o serviço de patrulhamento e vigia. Concluídas as medidas preliminares e mais urgentes, Veloso se dirigiu à população fazendo uso do serviço de auto-falantes do Partido Social Democrático (PSD), e comunicou que a cidade estava sob controle pacífico da Força Aérea e que a população podia continuar com seus afazeres diários sem qualquer temor. No trapiche do Instituto Agronômico do Norte, Bairro da Prainha, foi montado um Posto de Vigilância com a missão de revistar as embarcações. Os revolucionários achavam que a repercussão com a tomada de Santarém provocaria a adesão de outros oficiais, ampliando o movimento, mas não foi o que aconteceu.

“Combate em Santarém!”
“Luta-se encarniçadamente na Pérola do Tapajós!
Já sobem a milhares os mortos e feridos na Revolta de Jacaré-Acanga!”

No sul do país as rádios alardeavam notícias fantásticas e exageradas, enquanto em Santarém as “Fortalezas Voadoras” sobrevoavam a cidade despejando folhetos conclamando a população a se afastar dos insurretos. Na tarde de 22 de fevereiro de 1956, Lameirão sobrevoando o Amazonas no “Beechcraft”, avistou uma embarcação que confundiu com o “Presidente Vargas” de transporte de tropas, na verdade era o “Lobo D’Almada”, que conduzia centenas de civis. Lameirão muito nervoso, tão logo pousou, foi relatar a Veloso a necessidade de bombardeá-lo que preferiu outra alternativa realizando uma retirada estratégica que, certamente, poupou a vida de centenas de inocentes. Às dezenove horas, deste mesmo dia, partiram para a Base de Jacaré-Acanga levando armas, munições e 25 homens que julgavam serem fiéis ao Movimento.

Dias depois, chegava a Santarém o “Presidente Vargas” com um contingente de 300 homens do Exército, comandados pelo Coronel Hugo Delayte, e um contingente de pára-quedistas militares, comandados pelo Coronel Santa Rosa, o aeroporto foi liberado permitindo o pouso de diversas aeronaves militares.

“Enquanto decorriam as operações aéreas de reconhecimento do campo inimigo, as tropas vindas pelo ‘Presidente Vargas’ iniciavam sua subida pelo Tapajós, sob o comando do Coronel Hugo Delayte. Viajavam em barcaças. (...) Sucedeu, porém um imprevisto: Veloso queria apanhar gasolina em Itaituba. Chegou a São Luís (fronteira àquela cidade) numa embarcação com 12 homens. Dessa localidade enviou dois espiões a Itaituba para averiguarem se a praça estava desguarnecida. Acontece que lá estava a tropa do Coronel Delayte. Os dois espiões denunciaram o Plano de Veloso. Fizeram mais: conduziram Delayte e seus soldados a São Luís e indicaram a casa onde Veloso estava escondido. Ocorreu, então, o único choque armado entre rebeldes e legalistas. Veloso escapuliu pelo mato, mas no chão ficou estendido um homem: Cazuza, que Veloso, dias antes, em Santarém, em tom de pilhéria, promovera a cabo. (...) Cazuza se transformaria na única vítima da ‘Guerra’ do Tapajós”. (Arlindo Silva – Revista O Cruzeiro)
 

No dia 28, às 17 horas, Veloso, desarmado, foi aprisionado sem oferecer resistência em uma casa de São Luís. Levado para Itaituba foi transportado em um “Beech 1512” na companhia do comandante da “Operação Tapajós” – Brigadeiro Alves Cabral e escoltado pelo Major-aviador Celso Neves. Enquanto isso o Major Paulo Vitor, o Capitão Lameirão, e o Sargento João Gunther fugiam no “Douglas” para a Bolívia onde aterrizaram na noite de 29 de fevereiro no aeroporto de Santa Cruz de La Sierra.

Fonte: SANTOS, Paulo Rodrigues dos. Tupaiulândia. ICBS/ACN. Santarém, PA: Gráfica e Editora Tiagão, 1999.
postado em : http://desafiandooriomar.blogspot.com/2010/09/revolta-de-jacare-acanga.html

 
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